quarta-feira, 18 de maio de 2011

Geopark Adventure Trip - Etapa 1

Etapa 1: Termas de Monfortinho - Vila Velha de Rodão

Há quem diga que é difícil equilibrar-se em cima de uma bicicleta... outros que é difícil pedalar serra acima... Ora cá está o momento da verdade! Eu acho que difícil mesmo é descrever, transmitir, emoldurar aqui aquilo que vivemos, sentimos e confraternizamos ao longo de três memoráveis dias já guardados no nosso "baú de recordações" desta "viagem aventureira" pelos trilhos do Geopark Naturtejo! Vamos ver o que vai daqui sair!...

Tal como aqui fomos publicando, esta ideia "maluca" de percorrer os trilhos do Trip Trail Geopark Naturtejo-2010 surgiu logo que a prova veio para os cabeçalhos das notícias do mundo cicloturístico… aqui estava uma aventura engraçada para juntarmos aos nossos portfolios de bttistas lúdicos, mais uma daquelas que se guardam nos álbuns para mais tarde recordar!

A ideia de efectuar uma “viagem pelos sentidos” ao longo de 3 intensos dias, por 270 km’s do Geopark Naturtejo e 6 concelhos da nossa bonita Beira Interior cativou-nos desde logo. Não fosse o “preço alto” das inscrições e também teríamos participado na ocasião. Mas nem tudo estava perdido. Com calma, algum planeamento e ajuda de amigos e familiares tudo se consegue fazer, até isto. Não se faz inseridos na prova… faz-se em autonomia, ao melhor estilo Geo Raid… a que estamos habituados!! Eheheh…

Contudo nem tudo são facilidades! A realização de uma aventura destas implica sempre alguma logística, que atempadamente planeamos e pusemos em prática e igualmente requeria alguma preparação física e psicológica, talvez o nosso elo mais fraco, pois os últimos tempos tinham sido de estudo e muito trabalho, estando as bikes um pouco arredadas do nosso habitual convívio. Mas “Deus quer, o homem sonha e a obra nasce”! Portanto equaciona-se, planeia-se e realiza-se! Não havia volta a dar! E os dias 13, 14 e 15 de Maio chegaram depressa, assim como o nosso desejo de mais uma épica aventura!

O dia 13 de Maio marcava o início desta jornada que prometia percursos de rara beleza, aldeias histórias, monumentos naturais, castelos, fortalezas… etc, etc. Igualmente prometia dureza, espírito de sacrifício, motivação aditada… constantes habituais neste tipo de ultramaratonas, elementos que tínhamos bem na consciência quando o dia começou, bem cedo, pelas 6 e picos, com os preparos habituais para uma grande aventura em BTT - sandochas de todos os tipos e feitios, água e isotónicas q.b., material de oficina, etc, etc… Camel-bag cheio… até ao cimo!! Ficou pesado, mas era necessário! Quando avançamos para jornadas deste calibre em autonomia temos de ser auto-suficientes em tudo! Pelas 7 horas fui “apanhado” pelo Fidalgo, a nossa boleia para o primeiro dia seguindo-se depois o João Valente, junto do qual fiquei a saber que estávamos reduzidos à equipa habitual para estas doidices! O Agnelo à ultima da hora ficou “preso” na cidade com compromissos profissionais.

Chegados às Termas de Monfortinho, e depois de uma cafézada e de uma foto de grupo era tempo de darmos início a esta mítica aventura! Sem dúvida uma das maiores em que nos aventurámos… e que pretendíamos realizar ate ao fim! Pelas 08:30 saímos das Termas de Monfortinho em direcção a Vila Velha de Rodão, ao longo de 140 longos Km’s pelo Geopark Naturtejo, a primeira etapa da Geopark Adventure Trip, eu com a minha Trek Elite 9.8 e o João Valente, hoje com a Canyon Lux MR 9.0 SL, em mais um teste a uma grande máquina a pedal.

Saímos das Termas, em direcção às margens do Erges, fronteira natural entre Portugal e Espanha, e que marca os primeiros quilómetros pela sua beleza e acalmia aquela hora da manhã. Igualmente a nossa postura era silenciosa, anormalmente calma… íamos ambos a pensar no que nos esperava ao longo destes dias… seriamos capazes?? Estava um silêncio quase ruidoso, facilmente entendido entre ambos!

Nestas viagens tem que se dar a importância devida às coisas que nos rodeiam, mas sem stressar em demasia. Estávamos lá para desfrutar e foi isso mesmo que começamos a fazer depois desses momentos iniciais de introspecção! Para a frente é que é o caminho e foi isso mesmo que fizemos - pedalar com gosto, descontracção, contemplação e em boa camaradagem! E a língua depressa se soltou!

Os caminhos iniciais espraiam-se ao longo da Raia, paralelos à Serra de Penha Garcia de um lado e o Erges do outro, em zona de mato rasteiro, oliveiras, azinheiras e alguns eucaliptos que começam a fazer parte da paisagem local. O trilho é tipicamente quartzitíco com algumas zonas exigentes devido à pedra roliça. Bem perto avistamos as piscinas do Clube de Caça e Pesca onde esperamos regressar em Junho pela mão do Fidalgo, passando pouco depois pela pacata aldeia da Torre de Monfortinho, ainda adormecida aquela hora da manhã… nem vivalma!

Logo depois deparamo-nos com uma daquelas situações que suscita pontos de interrogação no cérebro… e agora? Tínhamos uma cerca para abrir e uma vintena de vacas curiosas do outro lado… passamos, não passamos… bem lá passamos, com as vacas meias tresmalhadas bem à nossa frente a correr que nem doidas! Ainda bem que correram elas e não nós à frente delas!

Sempre por bons estradões, fomos pedalando quase paralelos à EN-239, avistando-se Penha Garcia do lado de lá, na base da serra, um local muito bonito onde, com muita pena nossa, o track “oficial” não passa, pois seria interessante rever a zona dos fosséis a jusante da barragem. Fica para uma próxima!

Monsanto altaneiro ia-se avistando cada vez mais próximo, e representava a primeira dificuldade do dia, pois ao km 35 tínhamos a sua subida, desta vez pela calçada romana do lado da Devesa, uma “nossa velha conhecida” que já fiz inclusive com a SS e que seria subida pela primeira vez pela minha Trek. Como manda o figurino, pedalada forte e certinha leva-nos longe e assim se fez em boa cadência até lá acima, atingindo o topo da aldeia mais portuguesa de Portugal, onde a paisagem encanta sempre e a digital não se farta de fotografar!

Novamente pela calçada romana, agora do lado do S. Pedro de Vir-a-Corça, descemos este granítico “caroço”, desfrutando ainda de um single pejado de ortigas que nos levaria até à capela deste santo de nome invulgar, um local em que se respira história medieval! Ainda me lembro da última feira medieval que aqui assisti. Muito boa!

Depois do Carroqueiro os trilhos mudam um pouco surgindo agora alguma terra arenosa e barrenta, aprimorada por uma excelente e adrenalínica descida que nos leva pelo km 50 a Idanha-a-Velha, outro local onde se respira história e cultura ancestral. Aproveitamos para lá dar uma voltinha, entrando novamente no track junto à antiquíssima ponte que cruza o Pônsul e que nos leva por uma boa e constante subida, igualmente quase paralela à EN-332 até à terra dos aviadores portugueses, já com o km 6o no GPS - Alcafozes!

Vitaminado o corpinho à sombra da aeronave especada à entrada do santuário da Nossa Senhora do Loreto, padroeira da Aviação, era tempo de regressar aos trilhos marcados do GR12, por onde entramos noutro santuário, este muito querido pela minha família e onde estivemos em confraternização no dia 8, há menos de uma semana - a Nossa Senhora do Almortão.

Por asfalto seguimos até à base do “caroço” de Idanha-a-Nova e noutro local de culto dedicado à Nossa Senhora da Graça, começámos mais uma das complicadas subidas deste primeiro dia, ainda mais porque o calor apertava - a subida da calçada romana até ao centro histórico da vila. Aplicando a mesma receita de Monsanto, sempre com uma criteriosa gestão do esforço, lá levamos mais esta de vencida, entrando pouco depois na zona central da vila, junto à Câmara Municipal e onde supostamente teríamos um encontro com o Eng. Armindo, que não se veio a concretizar devido a questões de agenda.

Bem mas mesmo ali ao lado estava um café-restaurante com uma esplanada de laranjeiras com óptimo e refrescante aspecto… E se fossemos ali beber uma fresquinha?... Não só bebemos, como também degustamos um excelente bitoque de vaca XL que nos soube soberbamente!!! O calor apertava, mas ali à sombra das laranjeiras almoçamos principescamente, sempre com a bebida fresca a acalmar as gargantas secas e irritadas do pó e do calor… um momento “kit-kat” não planeado mas que saiu às mil maravilhas!


Estávamos no meio da primeira etapa (km 70) e a meio do dia, com o Sol no zénite, bem em cima de nós! Saímos agora de Idanha-a-Nova em direcção ao Ladoeiro, tendo por passagem intermédia a Herdade do Couto da Várzea, mas como o calor apertava o João decidiu parar à sombra… Um furo! Pois é, isto de “sair à rua” sem tubeless e “vestido” com câmaras-de-ar de “papel” tem destas contrariedades! Substituída a câmara de ar, lá nos lançamos numa boa descida que nos leva ao Couto da Várzea, local em que entramos na zona de planície que caracteriza a campina de Idanha.

Mas ainda antes de chegarmos ao Ladoeiro, um novo furo fez das suas, pois obrigou-nos a recorrer a uma nova câmara, desta vez com “nhenha” para ver se chegava ao fim do percurso, acabando ali o nosso stock… não podíamos ter mais furos! Entre searas de milho e algumas quintas de gado, passamos por dentro do Ladoeiro, entrando pouco depois na EN que leva a Monforte e onde cruzamos para o estradão que nos leva ao Monte Grande.

Nesse belo estradão, ladeado de muitos sobreiros e azinheiras, tivemos uma bela surpresa, pois quando demos conta tínhamos uma portentosa porca preta e os seus leitões a correr à nossa frente, pois tinham-se escapado do montado para o lado de fora da cerca, acompanhando-nos “em passo de corrida” quase até á barragem!

Depois do Monte Grande entramos no Vale do Pônsul, onde os trilhos se caracterizam pelo muito areão solto, aqui e ali secundado pelas pedras roliças, sempre exigente, mas também se caracteriza pela muita beleza paisagística que tem pedalar junto ao rio por quilómetros a fio… muito bonito!

Na ponte velha do Pônsul aproveitamos para vitaminar o corpinho e compor o nível de hidratação junto à fonte da Tasca da Ti Amélia, embora o nosso desejo fosse que a tasca estivesse aberta e aí sim a hidratação teria sido outra… bons tempos em que vínhamos para a “praia da mosca” do Pônsul de bicicleta pasteleira e depois bebíamos aqui uns “cai-bem” ou uns “tangos” fresquinhos!

Lentiscais ao km 110 era a “senhora” que se seguia e para lá chegar é preciso subir, sempre por estradões agora mais argilosos e arenosos, tendo sempre por companhia o muito calor, mas para nossa surpresa não chegamos a passar no centro da aldeia, virando para uma boa descida que nos leva até bem perto da Ponte dos Lentiscais, uma descida já nossa conhecida, mas… em sentido contrário! Já a passagem sobre o Pônsul é sempre bonita!

Num bom bocado em alcatrão, aproximamo-nos de Alfrívida, onde também não entramos, virando para o Santuário da Nossa Senhora dos Remédios, num bom estradão, inicialmente arenoso e depois xistoso, por entre sobreiros e eucaliptos, chegando-se pouco depois, ao km 123 a Monte Fidalgo, mais uma aldeia em fase “descendente”, pois nem vivalma, nem café por ali avistamos… valeu-nos uma providencial torneira de água junto à igreja, para arrefecermos o corpo e atestarmos novamente os níveis de hidratação… O João Valente praticamente tomou banho debaixo daquela torneira!

Esperava-nos agora uma descida seguida de uma subida que nos leva até uma paisagem privilegiada sobre a Barragem de Cedillo, visualizando-se ao longe a foz do Pônsul, à nossa frente o bonito lago criado pela barragem no Tejo e do outro lado Espanha a brilhar ao sol da tarde. Um local já nosso conhecido mas que encanta sempre!

Sensivelmente ao km 130 passamos pela aldeia dos Perais, entrando logo depois nos derradeiros km’s finais rumo a Vila Velha de Rodão, mas sem dúvida, os km’s mais desgastantes de toda a 1ª etapa. Se não bastasse o cansaço acumulado ao longo de uma centena de km’s, chegamos a este ponto do percurso e começam os trilhos típicos de V. V. Rodão - pedra… muita pedra solta, roliça, a tornar estes km’s finais num autêntico inferno para os pulsos e braços, a tal ponto de apetecer largar o guiador e deixar-nos ir… Não fosse a visão revitalizadora do Tejo e das Portas de Rodão, este bocado seria mesmo muito mau para a motivação!!

142 km’s e quase 08:30h a pedalar levaram-nos das Termas de Monfortinho a Vila Velha de Rodão, ao longo de trilhos absolutamente únicos e ímpares, alguns conhecidos, outros nem tanto, todos eles carregados de história, cultura e beleza natural que justificam a sua passagem. Visitámos 3 dos 6 concelhos que fazem parte do Geopark Naturtejo - Idanha-a-Nova, Castelo Branco, V. V. Rodão, avistando ao longe Nisa, tudo isto num só dia, tudo isto numa só assentada.

Para trás, além de um novo recorde pessoal - 142 km’s de BTT num só dia, ficava acima de tudo, a primeira de 3 etapas que nos propusemos fazer em autonomia, num ambiente de descontracção, pedalar com gosto e boa camaradagem… elementos sempre presentes do princípio ao fim, e que acabaram por marcar positivamente o dia! Era tempo de transportar as bicicletas e regressar a Castelo Branco para recarregarmos baterias! Esperava-nos em breve, outro novo dia, numa etapa não menos exigente – Vila Velha de Rodão - Proença-a-Nova.

Reportagem: Fernando Micaelo
Fotografia: João valente


5 comentários:

  1. Vocês tratam-se bem! Esse bife com ovo a cavalo está com um aspecto delicioso! :)

    Continuação de boa aventura!

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  2. Parabéns pela aventura e pelo relato. Estive recentemente nessa região e gostei muito do que descobri. Falta descobrir os trilhos de BTT. Quem sabe um dia...
    Boas pedaladas
    daraopedal

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  3. 142 km’s de BTT num só dia ! já dá para pisar o rabinho ! mas com um bom bife não são (20) vacas que metem medo !
    Continuação de boa aventura e força nas canetas !
    1 abraÇo.

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  4. 142kms??? O que é isso para vós???
    O único problema foi teres levado uma bike com pneus que não estiveram à altura da aventura. Mas deixa lá, no dias seguinte já não tiveste problemas desses.
    O F.Micaelo, na última foto, devia estar a pensar...
    - Meto nestas aventuras com amadores! Uns não aparecem, outros trazem pneus de "menina".
    hehehe

    Abraço

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  5. Obg amigos pelos comments! Foi uma etapa algo cansativa, mas muito fixe! Mais um grande desafio em que a tónica dominante foi o divertimento em cima de uma bike de BTT.

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